21 de julho de 2016

Quando eu comecei a ler mulheres.

(eu na foto em 2014)

Durante toda a minha vida, tive em minhas mãos livros escritos por homens. Meus autores e poetas preferidos eram homens (nem preciso entrar no detalhe de que eram todos brancos), meus personagens preferidos eram homens. Eu nunca havia notado que não tinha um único exemplar escrito por uma mulher em minha estante. De A a Z, todos os nomes eram masculinos.
Minto dizendo que passei minha vida sem ter lido uma mulher sequer, li Anne Rice e mais três autoras, mas todas escreveram personagens principais masculinos. E no meio de tanto homem na minha estante, elas passavam despercebidas. 

Foi depois de conhecer o feminismo que eu comecei a questionar: onde estão as artistas, as pensadoras, as autoras? 
Quando eu reproduzia pensamentos machistas, cheguei a pensar: "ah, mulheres não se interessam em publicar livros", e nem percebi que isso feria a mim mesma.

Depois que tirei as vendas do machismo, pude enxergar o que acontecia (e acontece até hoje de modo semelhante) com as artistas e escritoras de antigamente:
1. Elas não podiam terminar os estudos, pois eram ensinadas a cuidar da casa e arrumar um marido.
2. Elas não tinham voz nenhuma na sociedade.
3. Muitas mulheres que conseguiram escrever e fazer arte: a) tiveram que criar um pseudônimo masculino; b) foram esquecidas como se nunca tivessem existido; c) tiveram seus trabalhos roubados por homens.
4. Além do fato de que se mulheres brancas e ricas sofriam isso, imagine mulheres negras e pobres!

Mas Bruna, e as autoras famosas de séculos atrás? Há exceções, claro, mas é falsa simetria comparar a quantidade com o número de autores da época. Sem dúvida, elas tiveram que lutar muito para que seus nomes não fossem apagados da história. E serviram de exemplo e inspiração para as mulheres que vieram depois delas.




Por muito tempo na história, autor anônimo era uma mulher.” ― Virginia Woolf.

Hoje em dia, eu ainda leio livros escritos por homens, mas escolhi aumentar as autoras na minha lista de leitura. Nesse ano, de 21 livros lidos, 12 foram escritos por mulheres.
Quando eu comecei a ler mulheres, descobri que existem personagens principais que vivenciaram momentos semelhantes aos meus ou de outras garotas que conheço. Personagens que fogem do padrão masculino, rico e branco. Histórias que são ambientadas no outro lado do mundo, mas que a personagem também sofre as mesmas privações que eu sofro por ser mulher. Ler mulheres é empoderador.

Muitas garotas também passaram a ler mais autoras recentemente. Projetos e grupos foram criados pelo mundo. Em 2014, a escritora Joanna Walsh criou o projeto #readwomen2014, em vista da invisibilidade que as mulheres ainda tem no meio editorial. Baseado nessa iniciativa, mulheres do Brasil criaram uma rede de leitura chamada Leia Mulheres, que ocorre no país inteiro, onde há encontros presenciais todo mês em vários estados. Clubes do Livro apareceram aos montes, principalmente na internet, um deles é o Clube do livro GWS (da Revista Girls With Style). Listas de indicações também foram criadas, como 40 Escritoras para ler antes de morrer e 12 livros escritos por mulheres negras para ler em 2016.

Incentive e valorize também a escrita e a arte de mulheres que estão ao seu redor. Leia o que elas escrevem, seus blogs, suas revistas online, e-books, textos avulsos (os meus estão aqui), poemas, artigos, histórias em quadrinhos etc.
Recentemente, uma artista e quadrinista que eu admiro muito, a Aline Lemos, montou A lista com o nome de quadrinistas brasileiras (e meu nome está lá! *0*), e o número já alcançou mais de 400 molieres!

Mulheres escritoras sempre existiram, e abriram espaço com muita luta, entretanto ainda precisamos lutar por mais visibilidade!

~~~

➯  Meus textos.
➯  Minhas artes.
➯  Meu skoob.
➯ Já fui publicada em "Mulheres nos Quadrinhos vol. I" (2014), "Desnamorados" (2014), "Antologia MÊS" (2015).

8 comentários:

  1. É uma verdade.
    Mas esse cenário estar mudando, ainda bem.

    Beijos.

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  2. Há inúmeras autoras incríveis, mas infelizmente muitas não têm o reconhecimento que deveriam ter, espero que essa realidade mude <3
    Parabéns pelo blog, já estou seguindo para poder acompanhar as novidades

    www.papomoleca.com.br

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  3. Eu li um livro muito legal recentemente, de ficção cientifica/pós apocaliptico chamado Estação Onze, da autora Emily St. John Madel. Fiquei pensando como esse tipo de gênero de livro tem sempre um foco muito masculino do mundo e do futuro, geralmente muito violento, e no livro dela não deixa de ter violência em alguns momentos mas é de longe o foco da narrativa, ela escreve muito mais sobre aspectos internos e externos de se viver em mundo assim e isso é extremamente mais interessante do que mil histórias de zumbis.

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  4. Bruna, não sei como começar esse comentário de tão maravilhoso que é seu texto. Quando me dei conta de como os clássicos eram criados legitimando a voz dos homens, foi realmente "soco". Precisamos mesmo de movimentos como esses que você comentou que abram espaço e legitimem também as vozes das mulheres! Estamos juntas! Que bom que você existe neste mundo! Beijos

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  5. Sem dúvida Bruna, com tantas mulheres-escritoras maravilhosas por aí, a gente só sai perdendo em ler apenas autores-homens. Muito bom ver essa realidade editorial mudando!

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  6. Meus autores favoritos são todos homens. Costumo incluir Anne Ryce como autora favorita, mas é só uma desculpa que uso pra mim mesma pra não dizer que são só homens. Eu reconheço isso e quero muito mudar isso também. Já faz tempo que tenho pensado em ler mais mulheres. Estou pensando em fazer 2017 o ano de leitura de livros escrito por mulheres, e espero conseguir. Você tem algumas pra indicar, algum post com uma lista? Facilitaria muito ^-^

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  7. Bruna...
    Tenho lido alguns posts de seu blog.
    Conteúdo que muito me agrada.


    Achei perfeita essa indicação de leitura de mulheres. Precisamos disso.


    Cursei durante um tempo faculdade de Teologia. Um professor de literatura bíblica conversava conosco sobre alguns aspectos do texto que supõe que algumas narrativas bíblicas podem ter sido escritas por mulheres... mas nunca receberam o nome delas como sendo as verdadeiras autoras.

    Vou verificar os links e indicações que você sugeriu.

    Abraço.

    Ana Virgínia

    filhadejose.blogspot.com
    cartashoje.blogspot.com

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