8 de novembro de 2013

Aquarela


tenho visto muitos rostos vazios pela rua,
tento pintá-los o máximo que posso
usando a minha imaginação,
mas não sei o que fazer
quando me olho no espelho.

24 de outubro de 2013

Bela manhã


Eu respiro fundo,
quase não sinto o ar entrando nos pulmões,
que vazio é esse que sinto pela manhã?
que vazio,
que vazio...

14 de agosto de 2013

Não saberia



Como eu poderia saber
se tu caísses de uma escada e batesses a cabeça?

Tampouco imaginaria se 
um carro te atropelasse,
ou se por desgosto da vida
tu arrebentasses o
cordão umbilical
que te conecta a este mundo.

Por certo eu sentiria falta das
tuas mensagens,
tua voz através das ondas de rádio,
mas como eu saberia
se algo ruim te acontecesse,
se tampouco deu-me adeus?

(da mesma forma)
Como tu saberias
se eu morresse?

10 de agosto de 2013

Crescer é uma droga


Era de tarde e a temperatura estava amena, talvez fosse umas dezesseis horas. Eu vi da janela a minha prima brincando no quintal com um palito de plástico quebrado (provavelmente fazia parte de algum brinquedo já perdido), ela fingia que segurava uma varinha mágica, e ficava pulando de um lado para o outro, criando monstros e passagens secretas. Lembro-me de quando costumava fazer as mesmas coisas quando pequena (não pequena de altura, como as pessoas implicam comigo, mas pequena de idade), e o quintal parecia ser gigantesco, na verdade, parecia ser uma imensa estação de trem que passava pela minha escada e que levava-me a outras terras. Hoje eu o atravesso em seis passos e já não permaneço as tardes sentada perto do murinho.
É estranho como a infância fica para trás e nós mal percebemos.
Minha prima perguntou se ficará grande do mesmo jeito que eu, e se morrerá algum dia. Eu disse que isso demorará muito, e que ela não precisa se preocupar com esse assunto agora, pois só tem cinco anos de idade. Tentei consolá-la, mas a garotinha apenas lamentou que não queria crescer.
Ano que vem ela entrará na escola, já sabe fazer algumas letras do alfabeto, e tem vontade de ler os meus livros que estão na estante. Nessa idade eu chorava na porta do jardim de infância, pois não queria ficar longe da minha mãe. Eu não gostava muito da professora, e as crianças não eram minhas amigas, porém o que mais me amedrontava era que eu estava sozinha e crescendo.
O caso é que, definitivamente, crescer é uma droga, e essa frase veio da boca de uma pequena.

31 de julho de 2013

Jupa, Jupinha


Escrevi-te um poema:
Amo,
amo e amo,
amo, amo, amo,
eu amo,
amo
amo demasiadamente,
amo,
amo,
e amo,
amo e amo,
amo e amo muito,
amo,
amo,
(amo),
te amo.

23 de julho de 2013

Olhos cheios de estrelas


Dentro da casa ouviam-se de leve os acordes do violão, as janelas foram fechadas por conta do frio, mas através das cortinas era possível visualizar as sombras de meus amigos, que confortavelmente estavam sentados ao redor de uma mesinha. Do lado de fora eu vislumbrava do quintal o céu escuro, só dava para enxergar a lua, uma esfera tão branca e tão rechonchuda, que parecia estar prestes a cair na Terra se eu continuasse encarando-a, entretanto era só piscar os olhos que lá estava ela imóvel de volta em seu lugar.
Deixava-me pensativo o fato de que essa parecia exatamente com a noite em que eu conheci Isabelle. Era março e todas as estrelas pularam do céu e abrigaram-se dentro dos olhos dela - que extraordinariamente passaram a iluminar tudo ao redor. Ela sempre fazia isso quando sentia-se triste, talvez enxergasse o mundo de uma maneira mais bela quando colocava as estrelas em volta da íris. Eu a conheci assim, ela não era muito feliz quando a encontrei, e eu também não. 

Comecei a pensar em voltar à casa, o ar estava mais denso e ameaçava chover. Eu atravessava o quintal quando ouvi um barulho que vinha da rede de dormir. Caminhei até lá e encontrei minha amiga R. chorando. Sentei-me no chão perto dela e perguntei o que havia acontecido. R. por certo estava muito triste para falar, então permaneceu em silêncio.
Eu estava prestes a convidá-la para entrar na casa comigo, porém fui surpreendido quando ela me perguntou como estava a Isabelle. "Ela está bem, eu acho", eu respondi um pouco embaraçado, pois na verdade Isabelle já não me dizia se estava bem ou não. "Vocês ainda se amam? Ainda trocam sms todos os dias, não é?", R. perguntou enquanto enxugava as lágrimas do rosto. Eu sorri e disse que nós dois continuávamos amigos, mas que Isabelle já não era apaixonada por mim.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que R. ofereceu-me um gole do vinho que estava segurando entre os braços. Eu demorei a aceitar a garrafa, pois ainda pensava no que tinha dito. Eu ainda amava Isabelle com todas as minhas forças, e sentia-me arrasado ao perceber que ela estava saindo da minha vida tão sorrateiramente.
Por fim aceitei a garrafa. Eu fiquei com uma vontade imensa de engolir tudo o que existia, só para acabar com esse vazio dentro de mim.

23 de abril de 2013

Pressa



Por que você anda tão depressa?
Todos os dias,
Todos os dias são a mesma coisa.
Talvez nem se lembre mais
de olhar para cima e ver o céu.
Soube ao menos que há uma semana
o Sol se escondeu por entre as nuvens?

Por que você anda tão depressa?
Todos os dias são a mesma coisa,
Todos os dias,
Talvez se não houvesse olhado
apenas para o chão,
seu coração não estaria tão cinza.

Por que você anda tão depressa?
Todos os dias,
Todos os dias,
Todos...
Talvez tenha medo do relógio
e veja o tempo apenas como ponteiros,
e saiba melhor distinguir as folhas secas
das fezes de cães,
pois apenas olha para o chão e vê
seus pés lutando contra a hora.

Por que eu ando tão depressa?
Os dias todos,
a semana inteira.
São todos iguais!

21 de março de 2013

Oh eu, oh vida!

 

 
 
 
 
 

6 de março de 2013

Querida (que é o significado do seu nome)


Não te aflijas, benzinho
a vida é mesmo
esse emaranhado
de insanidade e desalinho.

Atira-se palavras e gestos ao acaso
e os dias se perdem no calendário.
Não há roteiro para quem está no palco
e nem se tolera um pouco de atraso.

Não te aflijas, benzinho
os problemas podem tentar
atacar-te feito abelhas gigantes
num louco redemoinho.

Mas não te aflijas, Carina
há quem te ajude a matar os monstros
pois daqui eu posso ver os seus amigos
surgindo em marcha detrás da neblina.

Então não te aflijas, querida
pois a ti sou toda mãos e ombros
mesmo sendo um mudo personagem
na grande peça de tua vida.

3 de fevereiro de 2013

Resquícios do passado qq


Esses dias eu estava arrumando o meu armário e encontrei uma pasta cheia de papéis antigos. Eu gosto bastante de colecioná-los.
Muitas cartas e desenhos ficaram sem sair nas fotos, senão o post não acabaria mais, então eu decidi colocar aqui os papéis que me deixaram mais surpresa pensando: "nem me lembrava que havia guardado isso aqui!" rs.


1. Uma caricatura feita em 2007
2. Música que a Andressa escreveu pra mim em 2009 (eu acho)
3. Peça de teatro que nunca foi encenada, escrita em 2011
4. Desenho que ganhei de um amigo em 2006

25 de janeiro de 2013

Um sopro


Uma voz soprou em meu ouvido.
Eu pensei que estivesse enlouquecendo, pois não havia ninguém em volta de mim.
A voz repetia o que eu ainda não conseguia decifrar. Assim, baixinho, sussurrou ainda mais perto. Eu temi que fosse um fantasma rancoroso atrás de mim ou um demônio zombeteiro, porém em nenhum momento eu realmente acreditei nessas besteiras.
Olhei para espelho e nada vi de incomum, não vi nenhuma boca perto de meu ouvido, mas ainda escutava a respiração fraca e o sussurro quase inaudível.
Prendi a respiração e me concentrei na voz. Eu ainda olhava para o meu reflexo no espelho e pude perceber o quão envelhecida era a minha expressão. Puro cansaço (mas do que?), e eu ainda nem passara dos vinte anos.
O sopro, que antes era uma lamúria, foi ficando cada vez mais alto, até que se transformou num berro. Eu estava delirando. A voz surgia de minha própria boca, e eu implorava na frente do espelho: VIVA!

21 de janeiro de 2013

A Menina e o Camundongo


O sol cobria todo o jardim de minha avó, mas do céu caia uma  chuva fininha e lenta daquelas que aparecem depressa e não vão embora nunca mais.
Eu olhava distraidamente para Susu, a gatinha da minha avó, que brincava perto de um formigueiro. De repente a chuva apareceu, e tive que me refugiar num quartinho que ficava nos fundos do jardim (a gata foi mais esperta e correu a toda velocidade para a casa principal).
Não era um local agradável, o cheiro de mofo impregnava todo o ar, e a poeira me fazia espirrar. Apenas um feixe de luz que vinha da janelinha iluminava o quartinho. Realmente não era nada satisfatório ficar lá dentro, porém logo fiquei entretida com uma porção de gavetas de um armarinho velho. Eu espiava o interior para ver se não tinha nenhuma barata, depois abria e remexia os objetos. Encontrei vários bloquinhos em branco, agulhas de tricô, apitos, um pente de cabelo, um batom roído nas pontas e muitos pares de qualquer coisa.
Sentei-me no chão (no canto menos empoeirado) e suspirei profundamente. Eu só conseguia ouvir o barulho da chuva.
Era demasiado triste querer brincar lá fora e não poder.
Comecei a imaginar se seria possível alagar toda a rua, e se teríamos que viver debaixo de um rio caso a chuva decidisse não parar mais. Pensava comigo mesma que minhas mãos ficariam enrugadas iguais as mãos da minha avó, e que seria difícil bater com as palmas uma na outra de tão gordas d'água. Também não seria fácil tirar um cílio solto, eu poderia acabar arrancando um olho com a mão tão pesada e com os dedos feito esponja molhada. Suspirei longamente após considerar tais possibilidades.
Estava tudo silencioso, tirando o barulho da chuva, quando ouvi um ruído agudo parecido com "tic-tic-tic". Olhei em volta e avistei perto de alguns livros uma meia que se mexia. Não, não se mexia, ela se tremia toda!
Nunca havia visto algo parecido e fui até lá cautelosamente, dizendo:
- Oi, senhora Meia... - eu a peguei na ponta onde se coloca o dedão. Mas logo vi um camundongo que se encolhia todo.
- Por favor, não me mate! - ele gritou com a voz esganiçada e repetiu mais três vezes - por favor, não me mate!
Ainda com a meia entre os dedos, eu pensei comigo mesma: o que é mais improvável? uma meia que se treme toda ou um camundongo falante?
Mas logo tratei de acalmá-lo, antes que seu coração minúsculo saísse pela boca.
- Não matarei você, na verdade, eu tenho muito medo de ratos.
Ele tirou as patinhas do focinho e me olhou profundamente.
- Você não é um gato?
- Não mesmo!
- Ufa! - ele exclamou e imediatamente parou de se tremer todo - então me diga, que barulho todo era aquele que ouvi agora há pouco?
- Ah! Eu estava suspirando tão alto assim?
- Eu pensei que fosse um gato e achei que fosse morrer! - ele colocou a patinha sob o peito na direção do coração, depois se aquietou - e por que estava suspirando?
- Eu imaginava como seria sofrido... - não pude terminar de falar, pois o camundongo interrompeu-me com um "tic-tic" alto.
- Pode, por favor, devolver o meu pedaço de pão? - ele parecia estar um pouco ansioso - guardei nessa meia que está na sua mão.
Ele aparentou ficar mais calmo quando eu devolvi o pedaço de pano ao chão. O camundongo segurou o pedaço de pão e começou a comer, então achei que poderia continuar a falar:
- Eu imaginava como seria sofrido para todos nós se a chuva resolvesse  transformar tudo num grande rio. As mãos ficariam enrugadas e todos teriam de usar roupas molhadas com cheiro de algas. Porém o mais difícil seria conseguir respirar com tanta água no nariz e na boca!
- Ora, mas...(ele mastigava)  eu sei como... fazer isso...
- Então, por favor, me conte! - eu fiquei um bocado ansiosa para saber o segredo.
- Basta (disse depois de uma longa pausa, pois precisou engolir um pedaço do pedaço de pão)... basta você (e meteu novamente outro pedaço do pedaço de pão na boca)...hmm - o camundongo roía demoradamente.
Resolvi esperar em silêncio, quando ouvi a vovó me chamar. Corri para a porta do quartinho:
- Estou aqui! - gritei, descobrindo que não estava mais chovendo.
- Venha comer um pedaço de bolo - ela gritou da cozinha e sua voz parecia bem distante.
Dei meia-volta para perguntar se o camundongo também queria um pedaço de bolo, porém ele não estava mais ali, também não havia mais pedaço de pão e nem a meia.
Antes de atravessar a porta, ainda sussurrei:
- Cuidado com a gatinha lá de fora! - e fui embora.
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