28 de agosto de 2012

Jogos antigos

Quando eu era criança - e falo de 10 anos atrás -, jogava vídeo-game logo após chegar do colégio. Mal tirava o uniforme e mal almoçava direito (era uma colherada a cada pausa), e ficava nisso a tarde toda - tudo bem, eu parava para tomar banho, comer e fazer o dever de casa, mas tudo isso era feito às pressas só para voltar a jogar.
Eu só tinha duas fitas: uma do Star Wars, onde se passava no deserto e o veículo era uma moto (infelizmente não encontrei o download para este, e nem me lembro do nome :'c ); e uma do Diddy Kong Racing.
Quase não aproveitei meu vídeo-game, pois o abestalhado do meu pai vendeu-o! Mas pelo menos consegui baixar há algumas semanas o emulador do meu lindo Nintendo 64.
De qualquer maneira, acabei desenterrando um monte de jogos antigos que eu costumava jogar, um deles é o Heroes of Might and Magic III (apenas Heroes 3, para os mais chegados), que consiste em estratégia de combate, e onde eu sou dona de exércitos de orc's e mortos-vivos.

Eu quando criança jogando diddy kong racing (vão dizer que é montagem :c)

8 de agosto de 2012

Ana Cronismo


Eu me lembro de Ana quando acordo pela manhã, e frequentemente vejo seu rosto encarando-me através de alguma janela, quando pego um táxi para ir ao trabalho. Lembro-me de como a sua risada era bonita, e isso é provavelmente a única coisa da qual eu consigo sonhar, mesmo depois de tantos anos.
Ainda sinto o cheiro de sua pele bronzeada e de seus cabelos curtos que batiam na altura de seu ombro. Recordo-me também do fato de que seu nariz era um pouco maior do que os lábios. E sinto falta de seus pés – Ana amava enterrá-los na areia da praia. Ela também amava música. Ah! Como ela dançava!
Dançava na chuva, no sol, dançava na grama, no meio da rua, em meus pensamentos...
Ainda vejo o nome dela no visor de meu celular quando alguém me liga, e ouço o barulho da televisão ligada quando chego em casa, como se ela estivesse assistindo ao seu programa favorito. Sinto o joelho dela encostar-se ao meu, antes de cair no sono. Em certas ocasiões eu penso que finalmente a esqueci, no entanto sou traído por mim mesmo ao colocar o seu danone preferido no carrinho do supermercado.
Quando acordo pela manhã, lembro-me de Ana e verifico se ela não está no banheiro penteando os cabelos ou escovando os dentes, mas ela nunca está lá. Os mortos não voltam.

2 de agosto de 2012

Tudo e nada.


Sou música sem ouvintes a tocar num disco arranhado,
Sou brisa de outono no início de outro estação,
Sou o copo do leite no tapete derramado,
Sou cílio solto voando em qualquer direção.

Do outro lado do espelho eu sou a careta,
Sou a máquina de escrever sem tinta,
Sou carta esquecida dentro da gaveta,
Sou cálculo de zero vezes trinta.

Sou túmulo sem alma penada,
O mesmo bom-dia de todos os dias,
Riso incontido na hora errada,
Cactos que parecem margaridas.

20 de junho de 2012

Jujuba vermelha


No colégio onde eu estudo há uma biblioteca no mesmo andar que a quadra de esportes. No horário do intervalo os estudantes conversam com os seus amigos despreocupadamente - sentados na quadra onde milhares de outros estudantes praticaram vôlei com os tênis sujos - enquanto enchem suas barrigas  com salgadinhos.
É provável que nenhum deles sequer tenha escutado o nome de Milan Kundera, autor tcheco nascido em 1929, mas não há dúvida de que compartilham do mesmo pensamento: "tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado"#.
Aqueles estudantes vivem sem remexer esse pensamento. Apenas vivem numa reta contínua sem grandes interrogações. Vivem como deveriam viver.
Enquanto eles mastigam e engolem seus salgadinhos, eu saboreio algumas jujubas e cubro a mesa da biblioteca* de açúcar.
Mas e depois? Depois o intervalo acaba e todos voltam às suas classes.



* a mesma onde eu perguntei se havia algum livro da Anne Rice, a autora de Entrevista com o Vampiro, e a bibliotecária confusa me perguntou se eu estava querendo Vampire Diaries -q.

11 de abril de 2012

Os peixes do rio


Berenice sempre me perguntava o motivo de eu passar tantas noites escrevendo sem dar sequer uma pausa, e porque eu teimava em pegar do armário a minha velha máquina de escrever, constatando todos os dias que ela já havia perdido sua tinta, e que atualmente a mesma não se fabrica mais.
Uma vez eu finalmente disse à Berenice que há um rio dentro de mim. A água é densa, e lá dentro há monstros grandes e feios que vivem submersos junto com os peixes.
Berenice perguntou se os peixes são dourados, mas eu respondi que não, os peixes não são dourados, eles são vermelhos com pintinhas verdes e sabem voar. Voar?! Ela me perguntou sobressaltada. Sim, eu respondi, as nadadeiras são as suas asas, e eles nadam pelo rio denso, fazendo força para voar, porque aquela água é pegajosa e preta, não dá para enxergar nada lá embaixo.
E como eles vivem? Ela me perguntou. Ora, eu respondi, eles morrem, minha Berenice, oh! não chore. É culpa dos monstros, eles precisam se alimentar... E quando eu escrevo, esses monstros se transformam em histórias. Quando um monstro é muito mau, a história fica boa e vira comédia, ou vira romance, as coisas são desse jeito no rio, os peixes demoram a nascer, e nessas horas eu penso em desistir de tudo, de fugir e de tentar secar o rio de alguma maneira, pois eu não consigo dar conta disso, menina.
Mas agora você não sente mais vontade de fugir, certo? Berenice perguntou. Não, eu respondi, agora eu tenho você, minha querida.

30 de março de 2012

À parte


Por que deveria eu me importar
com a sucessão dos dias
e das horas?
Quando deste mundo
eu não pertenço?

E me importar com as noites
e os dias desperdiçados
se de nada me servem
as pressões da vida humana?

26 de março de 2012

Morena

Se não é a cor do café
com
leite
que faz-me lembrar
de sua pele morena,
culpe o marrom
dos biscoitos de
chocolate
com
amendoim!

18 de março de 2012

Pensamento Pueril

Sempre pensei que a vida
fosse colorida,
exatamente como eu desenhava
quando era criança.


Não sabia que a vida era assim
em preto
e branco,
as cortinas se fechando
anunciando o meu fim.

13 de março de 2012

Deixem o Zé em paz!

Famoso sou eu.
Em cada canto,
Em cada verso
Meu nome dança
“Oh, Zé! Oh, Zé!”

Na boca de poetas,
Em letreiro de ônibus,
Na fofoca do povo,
Na boca de escritores anônimos.

Até pseudo-intelectuais me chamam,
Para falar de coisas que eu não perguntei,
Não dou à mínima e depois reclamam
Se eu jogo-lhes na cara o que sei.
Ora, mas não imaginam o nó de gravata que merecem!
Apenas Lispector e C. F. Abreu conhecem.

Pouca gente sabe do meu amigo,
Que o ceifeiro já deu cabo,
Drummond achou que eu tivesse morrido.
Morri e revivi com essa gente me invocando feito diabo.

Virei íntimo de tanta gente,
Sem vontade alguma,
Agora de pessoas atrás tenho uma enchente,
Tempo bom era quando eu vivia na penumbra.

Se me contam segredos,
Se choram em meu ombro
Ou se me esbofeteiam.
Riem comigo
E choram
E gritam.

Chamam meu nome
Centenas de vezes mais.
“Oh, Zé! Oh, Zé!”.

Acordam-me na madrugada,
Não escutam nem o que eu digo,
Não me deixam lavar a cara,
Só querem falar em meu ouvido.

Da paciência o poeta me suga,
Cansei desse papo de coração alheio,
Prefiro que em mim nasça verruga,
Bato o pé, já disse que não sou conselheiro.
Essa gente só me abusa,
Colocam meu nome em cada texto,
Do nada virei musa.

Quero ver quando eu for ao cartório,
E num pé só eu voltar,
Deixo que façam um velório,
Pois nada poético meu novo nome será!

9 de março de 2012

Alguns dias são mais chatos que outros.



Do outro lado da janela o sol parecia mais brilhante e mais quente. Eu o vi através das persianas e fiquei feliz em saber que hoje eu não precisava sair de casa.
Lá fora o cheiro de bacon queimado vagava pelo ar, quando na verdade era cheiro de gente torrada. O sol estava mesmo muito forte.
Eu continuava deitado no sofá de frente para as persianas, alguns filetes de luz atravessavam e caíam repousando em minha barriga. Talvez eu devesse varrer o chão ou fazer a barba, mas estava cansado demais para me levantar.
Eu só queria sentir o cheiro de morango que Sara deixava no ar... Mas ela não aparecia para me ver há meses e também não atendia as minhas ligações. Tentei puxar em minha mente o cheiro dela, mas apenas senti cheiro de bacon queimado.

6 de março de 2012

Batatas-frias


Gabriel tamborilava impaciente os dedos no teclado de seu notebook. Não sabia o que escrever, precisava mandar um artigo para o jornal local, senão ficaria sem o dinheiro para pagar o aluguel de seu apartamento, e desse jeito ficaria devendo mais três meses. Era ruim ter de subir o elevador torcendo para que a senhoria não aparecesse no próximo andar. Entretanto, não sabia o que escrever, sentia-se inválido olhando as tantas letras desenhadas no teclado e nada em sua mente.
Observou rapidamente em volta esperando a garçonete chegar com suas batatas-fritas, mas ela ainda se demorava na mesa vizinha. Toda aquela tensão estava matando-o, e uma vozinha que vinha de dentro dele dizia que as batatas chegariam moles e frias.
Gabriel guardou o notebook na mochila e ficou esperando com os cotovelos sobre a mesa. Era um bocado estranho a vida que tinha: morava num apartamento ruim, seu salário era um fiasco, não tinha amigos e mais ninguém para passar o tempo (tinha o Douglas, um vizinho chato e espinhento, mas ele não contava na lista porque Gabriel nunca gostou da presença dele), não tinha sequer um peixe ou um gato.
Continuou com seus olhos observando o lugar. O porteiro tinha uma cara azeda, comprida demais e um nariz muito fino. Talvez fosse porque ele desejava tanto sumir dali, que seu rosto estava desaparecendo aos poucos. Tsc, besteira. A garçonete era lerda e meio desengonçada sempre parecendo que vai derrubar a bandeja.
A única coisa boa de se olhar naquela lanchonete era uma moça que bebia um frappuccino na mesa da frente. Ela não tinha visto Gabriel em momento algum, e parecia muito concentrada num livro. Provavelmente se tratava daqueles romances lixos que se encontram aos montes por aí vendendo, alguma coisa com um mocinho e uma mocinha, etc.
Gabriel ficou meio enojado, ela perdia alguns pontos por causa do livro, mas ainda era uma coisa boa de se olhar, seu rosto era redondo e tinha uma boca pequena pintada de rosa (o batom deixava marcas no canudo cada vez que ela bebia o frappuccino). A moça havia permanecido imóvel todo aquele momento, até que se mexeu por dois segundos, iluminando os olhos de Gabriel. "Hermann Hesse". Talvez ela seja alguém que valha a pena conhecer.
A moça começou a tamborilar os dedos na mesa e ele pôde notar que ela usava fones de ouvido (antes os cabelos os escondiam), era ritmado e parecia que ela imitava discretamente o som de uma bateria.
Os olhos dele se iluminaram mais. E se ele se aproximasse perguntando qual banda ela estava escutando? Ou perguntando qual era o livro que estava lendo?

Gabriel levantou-se e andou em direção ao banheiro, nunca havia se preocupado com isso antes, mas o seu cabelo estava emaranhado e desleixado. Passou as mãos pelos fios, e quando achou que estava melhor, pôs-se a andar em direção às mesas.
A primeira coisa que notou ao voltar foram as batatas-fritas. Todas douradas e quentes (dava para ver a fumaça). Ele havia se enganado quanto ao lugar.
A segunda coisa é que a moça ainda estava ali, mas ela podia esperar, Gabriel estava com bastante fome para conversar.
Foi quando ele pegou a primeira batata que a garçonete apareceu pedindo desculpas (e chamando-o de senhor!). Aquela não era a porção dele. Aquelas batatas lindas e douradas! Não, a porção dele foi posta na mesa segundos depois. Feias e murchas, provavelmente mornas e sem sal. Eram amareladas e suas pontas eram marrons. Gabriel não sabia como reagir, pois todos os seus pensamentos se desligaram com a rebelião que seu estômago fez. Não comeria aquela porcaria!
Levantou-se sem paciência e falaria umas poucas e boas (frase velha, mas ele não sabia o que pensar na hora) ao gerente daquela droga de lanchonete, mas mudou de ideia quando a moça andou em sua direção e propôs que dividissem as batatas-fritas.

24 de fevereiro de 2012

Tacos e sangue.






Eu e meus amigos ainda podíamos ouvir o clamor dos expectadores quando o jogo acabou e ganhamos do time da casa, os Cães Raivosos.
Atravessamos o vestiário. Decidimos não trocar de roupa e continuar com o uniforme de beisebol, pois eu era a única menina do time e não poderia ficar sozinha lá fora.
Já estava escurecendo e os arredores do campo eram apenas terrenos baldios, de modo que os expectadores já tinham ido para suas casas de carro.
Eu ajeitei meu boné vermelho e branco, cantando a música da vitória, sendo acompanhada por todo o time.
Jimmy, meu irmão mais velho - e também o mais velho entre nós, procurava as chaves do carro em seu bolso, parando de andar por um segundo.
Já estávamos perto de seu automóvel quando ouvimos um baque surdo. Olhamos para trás atônitos.
Eu vi o taco de beisebol acertar-lhe bem na boca do estômago, Chuck não suportava perder a partida e naquele momento encurralava meu irmão junto com seu time.
Eu assistia àquela cena do outro lado, vendo os meninos pegar seus tacos e irem à direção dos Cães Raivosos.
Também peguei o meu e joguei meu boné no chão, mas Carl segurou meu braço e disse que eu ficaria dentro do carro, e se a coisa piorasse, mandou que eu dirigisse até encontrar a polícia.
Me empurrou e eu entrei pela janela, vendo-o correr para ajudar meu irmão, e vendo os meninos partirem para a briga.
Meus olhos estavam embaçados por causa da neblina, a noite chegava de modo rápido e eu não conseguia enxergar com muita nitidez, mas os meus ouvidos estavam funcionando perfeitamente e eu só escutava os sons de costelas e cabeças sendo arremessadas ao chão, socos sendo desferidos, dentes quebrando.
Eu sentia uma fúria inexplicável, a adrenalina subia pelas minhas veias e minha cabeça doía, meu corpo tremia e cheguei a pensar que o carro também tremia, alheio ao meu ódio. Eu tinha que ir até lá!
Peguei no banco de trás os tacos de reserva, dois seriam o suficiente, eu poderia morrer, mas também quebraria algo dos Cães Raivosos.
Saí pela janela e tentei me equilibrar com dois tacos ocupando minhas duas mãos que tremiam violentamente. Eu não gritei, mesmo quando abri a boca, não consegui gritar. E corri em direção a Chuck que chutava com muita força a barriga de meu irmão. Desferi um golpe em suas pernas, fazendo-o se ajoelhar e olhar apavorado para trás, mas não me viu, talvez pensasse que eu fosse pequena demais para lhe acertar. Isso me deixou com muito mais raiva, então bati com mais força em suas costas, assim ele se encolheu, largando meu irmão, mas eu continuei quando vi Jimmy abandonado no chão ensanguentado e inconsciente. Passei a desferir golpes seguidos em suas costas, até ouvir Chuck soltar um grito estridente, se calando em seguida. Ele não se mexia mais.
Eu olhei em volta e todos pareciam apavorados, mas não me fitavam, apenas olhavam para Chuck caído no chão.
Os rapazes dos Cães Raivosos também olhavam com medo, eu não entendia o motivo de tanta perplexidade.
Soltei os tacos no chão, vendo Carl segurar meu irmão.
Talvez jogar com aquele time não tenha sido uma boa ideia.
Andei até o carro e entrei pela janela, sentando-me no banco da frente ao lado do banco do motorista.
Ninguém havia tocado em mim, e eu jurava que era porque eu era mulher. E isso me deixava furiosa, e um pouco aliviada ao mesmo tempo, pois eles poderiam me matar só com um golpe.
Respirei fundo, meu corpo ainda vibrava.
Fechei meus olhos, e então senti algo escorrer em minha testa, toquei com a ponta do dedo e vi que era sangue, talvez alguém tenha me acertado e eu não vi, pensei.
Decidi virar o retrovisor para olhar o ferimento, mas para o meu espanto meu reflexo não estava ali, eu não aparecia, era como se eu estivesse invisível!

17 de fevereiro de 2012

Are You Gonna Be My Girl?



Meio-dia e o Centro do Rio de Janeiro parecia pegar fogo.
O cheiro de mijo ficou mais forte depois que o calor passou a ferver as poças de urina espalhadas pela cidade.
Os executivos atravessavam a passos largos a rua, entrando imediatamente em seus carros com ar condicionado, e os vendedores de picolé ganhavam uma boa grana.
Eu tentava pensar que o calor era psicológico, e me imaginava no polo norte enquanto andava o mais rápido que podia até meu trabalho.
Não almocei direito na hora do meu intervalo, e aquele deveria ser o dia mais quente da história.
Trabalhava como caixa numa loja de discos que para a minha felicidade estava com um novo ar condicionado.
Entrei na loja e em poucos minutos meu suor começou secar e me senti a salvo depois de encarar o sol de quase 50ºC lá de fora.

A música ambiente era um hit bem famoso de uma mulher que não-sei-como vendeu muitos cds e a batida era enjoada. Talvez eu devesse mudar e colocar algum disco antigo, algo bom.
Andei até a prateleira dos anos 80 quando uma garota de cabelo azul entrou na loja, dirigindo-se rapidamente até a sessão de rock alternativo.

Eu voltei ao caixa e fiquei seguindo-a com os olhos.
Ela era bem bonita e parecia indecisa com relação a qual disco levar.
Eu nem havia notado que a música anterior tinha chegado ao fim, e eu tinha de escolher outra, porque não é normal uma loja de discos não tocar discos. Mas eu não tive tempo, pois a garota chegou ao balcão com um sorriso enorme.

- Jet? - eu soltei uma breve risada, como se entendesse muito de música.
- Sim - ela fechou o rosto - há algum problema nisso?
- Não, me desculpa - eu me concentrei em pegar o dinheiro e colocar o disco numa sacola de plástico - aqui está o seu troco, tenha uma boa tarde.
Ela então saiu da loja e foi embora.

Eu pensei que a garota nunca mais fosse aparecer, mas na semana seguinte ela foi até a loja e escolheu um disco do The Vines.

- Não vai rir? - ela perguntou quando estava quase saindo da loja.
- Não - eu respondi constrangido.
- Que bom, porque não era eu quem estava na sessão de música brega - sorriu e foi embora.

"Música brega?!", eu pensei, olhando na direção de onde eu estava dias antes quando queria ficar na frente do ar condicionado. E notei que acidentalmente eu segurava um disco do Reginaldo Rossi.






(quer saber como eles ficaram depois? clique aqui ;p)

12 de fevereiro de 2012

Mocinha dos sapatos azuis.



Eu me sentei no banco do ônibus sem nem olhar para quem estava ao meu lado. Pus minha maleta no colo e passei as mãos no rosto. Voltava do trabalho. Horas e horas no banco. Queria mudar de emprego, algum dia encontraria algo melhor. Algum dia... Olhei meus sapatos, estes precisavam de água, de um pouco de graxa, eram pretos mas estavam cinzas. Decerto pisei em alguma lama. Definitivamente limparia meus sapatos ao chegar em casa. Respirei fundo, fazendo barulho com o nariz. O chão metálico do ônibus também estava sujo, havia chiclete velho colado ali, e outras coisas que não podiam ser identificadas. Também precisava ser limpo. As companhias de ônibus não mandam lavá-los? Ora, mas do que me importa?
Eu continuava com os olhos parados num ponto do chão metálico, tentando pensar em alguma coisa que não fosse relacionada à minha vida patética. Pensei no preço da gasolina, na greve da polícia, num letreiro que vi antes de entrar no ônibus. As crianças de hoje não estudam? E eu? Eu ainda era jovem, podia arranjar um emprego melhor. Eu podia...
Ah! Algo interrompeu meus pensamentos, senti uma dor na perna que me arrancou uma expressão que me fechou todo o rosto. Abaixei os olhos e vi um pé ao lado do meu calçando um sapatinho azul-marinho, e quando subi meu rosto, ouvi uma vozinha pedindo desculpas.
Era uma garota de olhos bem negros e grandes, daqueles que leem a alma. Ela era toda olhos, e eu não conseguia enxergar mais nada além daquele par de órbitas.
Eu estava desconcertado, como se estivesse nu em local público, e dirigi meu olhar para o outro canto do ônibus, embora conseguisse enxergá-la pela minha visão periférica.
A mocinha se meteu num livro que apoiava no colo e dali não tirou mais o nariz.
O ônibus balançava e seu corpinho também, quase caindo do assento, esbarrando seu ombro no meu a todo instante.
Não pude ver qual era o livro, pois meus óculos estavam na maleta, mas ouvi que ela dava pequenas risadas.
Lá fora os carros buzinavam e lá dentro as pessoas faziam um barulho terrível, e mesmo assim a mocinha não tirava o rosto do livro, continuava enfunada naquele amontoado de papel.
Eu foquei meus olhos em seus sapatinhos azuis. Qual deveria ser o nome dela?
A essa hora um idoso se aproximou, eu fingi que dormia para não sair do lado dela e ter de dar o lugar ao velho, mas antes que eu pudesse simular meu sono, vi a mocinha se levantar, quase pisando em meu pé novamente, mas esbarrando em meu joelho, e dando o lugar ao senhor.
Ela tinha cheiro de chocolate e carregava uma mochila rosa no ombro direito.
Quando olhei para trás, só tive tempo de vê-la descer do ônibus, deixando sem querer o livro pender dum bolso e cair no chão metálico.

5 de fevereiro de 2012

Alguns dos livros que eu quero ler.


A maioria dos livros que eu quero ler são antigos (minha estante no skoob), então vou divulgar alguns nacionais e novos que já entraram na minha lista!


Hugo e Elisa e a Fuga de Madame Hornick.
Autora: Anna Chiara
Onde comprar
Sinopse: Mistério e suspense em Londres. A única alternativa é solucionar o caso. Hugo Forsyth e Elisa Adams são dois jovens detetives que trabalham para a Empresa de Investigações Super Kings. Quando tomam conhecimento da fuga de Madame Hornick, a dupla decide investigar o fato de forma incansável, buscando por informações que gradativamente os levem a alguma pista. Com persistência e vontade de fazer justiça, Hugo e Elisa passam por momentos de tirar o fôlego e por fortes emoções até chegar à reta final desse mistério.




Anestésico, Por Favor.
Autor: Guilherme Hotto 
Onde comprar
Sinopse: A reunião de histórias sublocadas de amores da boêmia. Onde amores suburbanos, amores líticos, amores desgraçados, burgueses, malditos, amor descortês, amores inventados encontram amores que percebem os tratos da alma. Amores anestesiados.


Sala de Embarque.
Autor: Marcos Mantovani
Onde comprar
Sinopse: "Atenção, senhores passageiros: nesta Sala de Embarque, qualquer das partidas (crônicas) leva a uma viagem deveras inebriante. A decolagem está autorizada a quem interessar adquirir uma preciosa experiência literária, em que as travessias propostas por Mantovani deságuam em uma bagagem de excesso gratificante. Um volume maior de própria vida, adquirido nas rotas de cultura, arte e comportamento tão bem conjugadas e traduzidas pelo autor. Com referências de mundo absolutamente oportunas, e feeling em máximo estado de alerta, perspicácia e poesia para singelos eventos cotidianos, o desfecho de cada texto incrusta na alma do leitor o sentimento de que viver é mesmo uma viagem. Um percurso que nos cabe realizar (diferente do que rege a tradicional cartilha) com os cintos rigorosamente soltos. Vocês não poderiam embarcar numa melhor!" Dudu Oltramari, cronista. 




Assombros Urbanos.
Autor: Dionisio Jacob
Onde comprar
Sinopse: O personagem central do romance de Dionisio Jacob é um sujeito indeciso, sem vocação para o sucesso. Lima, o protagonista de 'Assombros Urbanos', define-se como aquele que sempre chega depois que a festa acabou. Foi ator de teatro de vanguarda na década de 70 - quando levava "duas horas para atravessar, completamente nu, um pequeno palco de seis metros" -, fez terapia do grito primal, morou em comunidade hippie, foi ator de comerciais e acabou como apresentador de Assombros na madrugada, programa de TV que vai ao ar às duas da manhã .Para azar de Lima, porém, o programa que ele apresenta começa a fazer sucesso e se torna um fenômeno de audiência, causando uma série de transtornos em sua vida. Num texto leve, marcado pelo humor, Dionisio Jacob satiriza o pequeno mundo das celebridades, do sucesso fácil e das veleidades da sociedade brasileira de hoje.

4 de fevereiro de 2012

Socorro, outro colégio!


Eu tirei essa foto e nem imaginava a utilidade que seria ao pegar a câmera e fotografar o meu ex-assento na minha ex-escola (e isso parece tão surreal), quando a aula ainda não havia começado.
Programava para um post "de volta às aulas", mas agora eu só poderei ver a sala através dessa foto.

O caso é que até antes de ontem o meu caminho escolar estava traçado, mas tudo mudou quando minha mãe recebeu um telefonema de um tenente (ou era coronel?) dizendo que eu podia fazer minha matrícula no colégio X (se eu falar o nome aqui, podem me sequestrar .-.). Minha mãe aceitou sem pensar duas vezes, é claro, esse colégio é uma maravilha e não entra qualquer pessoa.
Então naquela mesma manhã tivemos de passar uma borracha e organizar tudo de novo. Ontem minha matrícula foi feita e é definitivo: vou mudar de colégio.
Claro que não é preciso tanto alarde, mas é que acontecer isso de uma hora para a outra é meio assustador.

Fiquei bastante feliz, até porque vou entrar num colégio que dá valor aos bons alunos, diferente do anterior. Mas sentirei muita falta dos meus professores, e de meus amigos. Estou saindo da minha zona de conforto e entrando em outro mundo, depois de quase três anos seguindo as mesmas regras e olhando os mesmos rostos.

Segunda-feira as aulas começam e eu estou muito ansiosa, tomara que eu consiga lidar com essa nova rotina!

1 de fevereiro de 2012

Meus queridos zumbis!


Eu tentava afinco prender as trancas na porta que parecia quebrada. Sete trincos enormes numa porta fraca de madeira.
Precisava ser rápida e não queria explicações, não naquele momento.
Fora do prédio escolar (e não me pergunte que prédio era aquele) as pessoas corriam desesperadas e ensaguentadas, e não sei se eram bem pessoas.
A coordenadora do colégio (aquela mulher feia de cabelo de fogo) não me deixava fechar os trincos, e me obrigou a abrir a porta. Feito isso, quando eu a abri, havia um morto-vivo lá fora olhando-me furiosamente, mas uma tela de arame o detinha.

Parecia ser um ringue (um pouco parecido com aquele filme do Tarantino), e a mulher de cabelos de fogo jogava lá dentro os alunos que não se juntavam à ela.
Eu estava com medo porque um menino me olhava e isso significava que eu estava na lista, talvez fosse a próxima.

Éramos obrigados a passar perto do ringue na hora do intervalo, passávamos por um corredor estreito, e se não tomássemos cuidado, poderíamos ser pegos pelos braços e PAAM, comidos.

Eu tramava um plano pra fugir dali, mas não possuia armas, nem um mapa, nem um lugar seguro para ir, nem companheiros.

China Anne McClain (e não me pergunte o motivo de ela estar lá) era uma aluna e portava uma metralhadora gigantesca enquanto jogava sinuca. Eu me aproximava e cochichava sobre uma possível fuga. E ela me questionava o porquê de sair de lá, se tínhamos água, comida e tudo que precisávamos.
Então no mesmo momento a coordenadora de cabelos de fogo jogou um menino no ringue, e se ele não tivesse corrido a tempo até o limite, estaria morto.
China me olhou assustada, ela já estava do meu lado.

Mas não chegamos a sair de lá.
O mundo inteiro parecia estar contaminado, de modo que nem pelo mar, nem pela terra e nem pelo ar poderíamos fugir.
Eles eram rápidos e não sentiam cansaço.

China se afastou de mim quando a mulher apareceu fitando-me com aqueles olhos enrugados, agora eu também precisava de uma metralhadora.


(certo, isso foi parte de um pesadelo que eu tive, onde acordei tremendo e chamando pela minha mãe)

30 de janeiro de 2012

Essas coisas de blog!


Cinco dias, uma semana... E assim meus posts ficam velhos e meu blog desatualizado.
Não é minha culpa (ok, é sim, mas não é de propósito), o caso é que eu perdi o foco e passo minutos preciosos da minha vida olhando a tela em branco, pra no final do dia fechar a página e pensar: "ah, amanhã eu posto alguma coisa". Mas esse amanhã parece que demora muito mais do que o esperado.

Fiquei pensando no motivo de eu ter criado esse blog (quer dizer, porque raios nós criamos blogs?!), e na dor de cabeça que foi para arquitetar cada detalhe. Ele foi o único que levei adiante, creio que antes existiram dois que não gostei e excluí em menos de 1 mês de existência.
O tal do motivo era divulgar meus textos num lugar onde meus amigos pudessem lê-los, o que sempre fizeram me dando muito apoio (e elogios exagerados). Mas agora eu não sei o que fazer aqui, os blogs "literários" (acho que podem ser chamados assim) estão abandonados ou não são divulgados, de modo que textos brilhantes ficam ao vácuo, e blogs de modas e futilidades sempre crescendo mais e mais com suas matérias repetidas.

Mês passado eu vi um projeto chamado "Volta mundo blogueiro", porém o mesmo parece que está abandonado há tempos, o que é lamentável.

Já o meu blog virou uma mistura de textos, desabafos e matérias que não tem nada a ver. E embora haja 300 seguidores (que me deixam feliz), comentários e um número considerável de visitantes, ainda fico pensativa se devo continuar, se realmente é um blog que mereça continuar no ar. Já tem tanto lixo virtual por aí que mais um não faria falta.

Meus posts não melhoram o dia de ninguém, nem são lições de vida (não é drama, é realidade).
O caso é que ainda não vou excluir esse lixo aqui, então vocês são obrigados a aguentar essa bagaça, rs.

25 de janeiro de 2012

Minha primeira censura!



Meus amigos, faz uma semana que eu recebi a minha primeira censura literária.
A maioria das pessoas pode achar isso ruim, e esse é um dos mais fortes motivos para que um escritor amador se torne frustrado. Todos nós precisamos de motivações, e críticas ruins e não construtivas acabam com o nosso dia.
O que ocorreu, porém, deixou-me confiante e com sabor de "desafio" na boca. Faz parte da vida diária de quem tem como objetivo a literatura (as outras artes também, não é?), as críticas vão aumentando, feito ondas do Havaí. Alguns afundam, outros aprendem a surfar na marra. O objetivo é chegar vivo até a praia e não ser comido pelos tubarões.


A censura, como eu mencionei, ocorreu numa comunidade, onde eu recentemente passei a postar alguns textos de minha autoria usando o pseudônimo "Bandini". O texto vítima foi "Bang, bang, I'm dead", postado dia 17 aqui no blog.
Tomarei a liberdade de copiar e colar o que me foi dito no tópico:

22 de janeiro de 2012

A ida ao dentista.

*Texto que eu mandei para uma antologia.
De 130 textos, o meu foi selecionado entre os 33 para a segunda fase. Infelizmente não ficou entre os 17 escolhidos.


Eu me arrependi de ter bebido uma dose de saliva de unicórnio, porque agora o meu dente doía muito mais, e possivelmente o meu hálito mataria o dentista.
Eu estava parado na porta da clínica quando do outro lado da parede surgiu um barulho de serra elétrica, e um pouco mais baixo se ouvia um grunhido de dor. Isso só podia significar que havia um paciente lá dentro.
A sala de espera só tinha a cor branca e esse aspecto dava certa tensão. Bancos, mesas, portas, os pisos, as paredes, as roupas dos funcionários, o telefone, as molduras dos quadros, o bebedouro. Tudo era branco e perfeitamente limpo. Eu me sentia mal, meus dedos estavam gelados, mas eu não podia ficar com medo, um ciclope não se assusta com nada e eu já tinha arrancado vários dentes com a mão.
Se alguém do vilarejo me visse agindo como um medroso... Bem, o caso é que eu deveria manter a calma.
Sentei no sofá e tamborilei os dedos no joelho olhando em volta, acabei percebendo que havia um duende ao meu lado.
O nanico aparentava beirar na casa dos quarenta anos, suas narinas deixavam escapar cabelos grossos e grisalhos, e sua expressão era de impaciência. Ele não aguentou ficar sentado muito tempo e saiu andando rápido da clínica.
Também tinha um quadro feio, uma espécie de jardim pintado com cores vibrantes e elfos dançantes em volta de uma árvore grande. Quadro ridículo.
À minha frente uma fada com o rosto verruguento parecia dormir sentada no banco, a não ser pela sua perna direita que não parava de se balançar. Também era bem feia.
Depois de duas horas o paciente saiu da sala com a boca inchada e gemendo de dor. Era um pequeno minotauro de chifres novos.
Um par de minutos depois a recepcionista chamou pelo duende, porém ele já havia ido embora. Demorou mais um pouco até que ela olhasse de novo quem estava na lista.
O próximo era eu.
Respirei fundo e me levantei tentando não esbarrar em nada, e entrei na sala do dentista.
O doutor estava de costas. Era um elfo de estatura baixa. Seu cabelo loiro esbranquiçado era preso por um pedaço de raiz e seu jaleco quase encostava-se ao chão.
A criatura virou-se devagar pra mim.
- Linus! – eu falei surpreso - que diabos você está fazendo aqui?!
Ele era o elfo lerdo que eu dava uma surra nos intervalos do colégio quando era pequeno!
- Ora, ora, Gradus – ele olhou a ficha – parece que veio arrancar alguns dentes – um sorriso largo e assustador apareceu em seu rosto.

18 de janeiro de 2012

Bang, bang, I'm dead.


Era carnaval, e eu nunca gostei dessa festa. Faz calor, as músicas são ruins e a rua vira um inferno.
Eu estava na casa dos meus amigos e as únicas coisas que a geladeira possuía eram garrafas de vinho, latas de cerveja e macarrão. Passamos cinco dias assim.

No terceiro dia vi meus amigos entrarem juntos ao banheiro, eles sorriam e carregavam saquinhos nas mãos. Eu os segui e apenas ouvi o trinco da porta sendo virada à chave atrás de mim.
O banheiro era enorme e bonito, muito bonito. Os azulejos da parede eram bem pretos e havia uma prateleira apenas para os perfumes.
Meus amigos estavam reunidos em frente à bancada da pia, que era grande e cinza antes de derramarem um pó branco naquele mármore. Fizeram linhas grossas da parede até a beirada, o branco quase caia ao chão.
Eu olhei assustado, mas não deixei que me vissem tremer as calças.
As linhas pareciam lacraias gordas e albinas, pareciam nunca acabar.
Um deles me virou e disse: "você não vai cheirar isso". E eu respondi: "se eu quisesse usar, não seria você que me impediria. Aliás, eu não quero essa porcaria".

Eu me conservava ao lado, apoiando as costas na parede. Era extremamente bonito aos treze anos, meu cabelo era bem preto e liso, usava um penteado repicado e meus olhos tinham um ar de desinteressado. Minha calça estava rasgada e minhas sobrancelhas sempre se mantinham arqueadas de lado, como se algo sempre me incomodasse.
As garotas sorriram para mim pelo jeito como eu respondi, antes de aproximarem o nariz ao pó que estava na bancada.
É igual aos filmes, eles imitam as cenas, e as cenas são fiéis a eles. O papel enrolado era a ponte até às narinas que fungavam e ficavam rosadas.
Eu olhava com nojo, com ar de superioridade. "Eles são tão otários", mas eu era o otário. Por que eu estava naquele lugar?!
Depois de alguns minutos todos saíram do banheiro, inclusive eu.

Andei até a cozinha e cuspi no chão, "que diabos, não sei nem voltar pra casa. Por que raios eu concordei em vir? Eu não sei nem o endereço", pensei, colocando as mãos nos bolsos da calça e chutando uma cadeira.

Eu passei a tarde inteira bebendo vinho com uma garota na varanda, olhando para a paisagem e pensando no que fazer nos próximos dois dias naquela casa. Gabriella era bonita, seu cabelo também era preto, e sua boca era grande e comprida horizontalmente, sorriso bonito, sorria com os lábios e com os olhos, mas eu tentava não olhar para o seu rosto e ver que estava chapada.

À noite, porém, eu estava sozinho no quarto de hóspedes, enquanto meus amigos bebiam cerveja barata na sala.
O sono não chegava. Eu fiquei deitado com o peito contra o colchão e com a cabeça apoiada nos braços.

Até que um cara entrou no meu quarto e sentou-se ao pé da cama, ele é quem havia comprado a droga. Era barrigudo e tinha cabelo crespo, seus olhos eram amarelados e não brancos, sua pele era bem negra e não usava camisa.
Ele falou que minha garota não havia voltado àquela noite, disse que ela saiu bêbada pela porta e não voltou.
Eu não ligava, ela não era minha garota, não mais, não queria mais aquela guria.

Ele se aproximou de mim e tocou em meu cabelo, de modo que eu pulei da cama e fui para o outro lado e disse bem alto que não tocasse em mim.
Ele sorriu e perguntou: "por que você tá aqui?". Eu não entendi e não respondi. Então ele disse: "esse lugar não é pra você". Eu perguntei: "o que?", ele disse: "você não é como eles".
Eu fiquei parado e mandei que ele saísse do quarto, e ele se foi, dizendo que eu não deveria estar ali, e fechou a porta.
Eu fiquei sentado na cama e no escuro. Ele tinha razão, aquele não era o meu lugar.

20 coisas inúteis que eu quero! #18



1º Presilha de cabelo formato olho : $ 7,99

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9 de janeiro de 2012

Byron e eu.

*Foto tirada da minha parede: "Mas por quê eu pelos outros devo sofrer, quando ninguém por mim irá suspirar?" (Lorde Byron).

Eu repetia essa frase todos os dias ao acordar, durante cinco anos.
Parecia ser o meu único escudo naquela idade: parar de me importar com quem estava nem aí pra mim.
Deu certo por um tempo, quer dizer, deu mais certo do que errado. Acabei aprendendo a controlar meus sentimentos e a oprimi-los, transformando-os em outras coisas, tais como a escrita.
Tudo estava indo bem. Eu sozinha conhecendo o meu próprio pensamento, sem ninguém por perto para atrapalhar.
Aprendi também a me concentrar mais, passei a ler em meio ao barulho, e os sons sumiam, ficavam bem baixinhos conforme eu mergulhava nos livros.
Também me isolei mais, eu sabia que repetir aquela frase durante cinco anos me faria optar por escolher a minha companhia, do que a companhia dos outros.
Poupei muito sofrimento, mas acabei ficando orgulhosa a ponto de achar que não precisava da ajuda de ninguém em nada.
Naquele tempo eu precisava de algo para me segurar, e não havia outra coisa senão aquela frase.
Minha parede será pintada em breve e todos os meus desenhos, inclusive essa frase, deixarão de existir aqui em casa.

Adeus Byron.

2 de janeiro de 2012

Prioridades




H. A. entra a passos largos ao quarto de S. S., e joga-se na cadeira, com os braços finos cruzados.

S. S.: Certo, então... Bem, o que há com você?
H. A.: Aquela mesma história de sempre, (suspira), acho que dessa vez eu vou desistir.
S.S: Ouviu o que acaba de dizer?
H. A.: Sim, oras.
S. S.: Está sempre desistindo das coisas, e agora quer desistir de uma viagem?
H. A.: Pois eu ficarei ausente durante meses!
S. S.: Quantos meses?
H. A.: E provavelmente mamãe comprará uma casa e não voltarei mais.
S. S.: Então não vá.
H. A.: Se bem que aqui nesse fim de mundo eu nunca serei uma atriz.
S. S.: Fica, hein.
H. A.: Você está certo, estou sempre desistindo.
S. S.: É normal desistir.
H. A.: Lá tem telefone, poderei falar com a Rita todos os dias.
S. S.: A viagem vai durar muitos meses?
H. A.: Muitos, talvez eu fique por aquelas bandas de vez.
S. S.: Mas e os passeios que eu lhe prometi levar?
H. A.: Não tem problema em descumpri-los.
S. S.: Vai mesmo embora?
H. A.: Além do mais, está na hora de eu parar de desistir das coisas.
S. S.: E a saudade que vou sentir de você, menina? Como é que eu fico?
H. A.: Preciso mudar minhas manias.
S. S.: Eu gosto do jeito que você é.
H. A.: Que horas são?
S. S.: Meio-dia e quatorze.
H. A.: Preciso ir! Mamãe aprontou o carro para a viagem.
S. S.: Já?
H. A.: Tchau, meu amigo, tentarei visitá-lo quando puder.

H. A. levanta-se e vai embora deixando seu cheiro de amora pelo quarto.

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