Era de tarde e a temperatura estava amena, talvez fosse umas dezesseis horas. Eu vi da janela a minha prima brincando no quintal com um palito de plástico quebrado (provavelmente fazia parte de algum brinquedo já perdido), ela fingia que segurava uma varinha mágica, e ficava pulando de um lado para o outro, criando monstros e passagens secretas. Lembro-me de quando costumava fazer as mesmas coisas quando pequena (não pequena de altura, como as pessoas implicam comigo, mas pequena de idade), e o quintal parecia ser gigantesco, na verdade, parecia ser uma imensa estação de trem que passava pela minha escada e que levava-me a outras terras. Hoje eu o atravesso em seis passos e já não permaneço as tardes sentada perto do murinho.
É estranho como a infância fica para trás e nós mal percebemos.
Minha prima perguntou se ficará grande do mesmo jeito que eu, e se morrerá algum dia. Eu disse que isso demorará muito, e que ela não precisa se preocupar com esse assunto agora, pois só tem cinco anos de idade. Tentei consolá-la, mas a garotinha apenas lamentou que não queria crescer.
Ano que vem ela entrará na escola, já sabe fazer algumas letras do alfabeto, e tem vontade de ler os meus livros que estão na estante. Nessa idade eu chorava na porta do jardim de infância, pois não queria ficar longe da minha mãe. Eu não gostava muito da professora, e as crianças não eram minhas amigas, porém o que mais me amedrontava era que eu estava sozinha e crescendo.
O caso é que, definitivamente, crescer é uma droga, e essa frase veio da boca de uma pequena.
Poxa... Texto contundente. "Eu não sei porque que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança", Acho que todos tem essa fantasia. Deixei um comentário no Youtube, no simpático videozinho dos livros, já que no blog não tinha, ou não vi, opção para comentários.
ResponderExcluirMEUS OITO ANOS
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Casimiro de Abreu
http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/
Ops! No comentário acima, onde falei "fantasia", se bem que até dava prá ficar, quis dizer, na realidade, "nostalgia"!.
ResponderExcluirhttp://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/
Quando somos crianças temos a imaginação tão viva... fantasiamos tanto, com dragões, monstros e fadas, mas sabe que eu não trocararia meu aprendizado que tenho hoje, pra voltar na minha infância? Acho que, ainda fantasio com os mesmos gnomos e varinhas mágicas, lido com monstros e anjos todos os dias. Mas que ela fique adulta, como a gente, e que não deixe de sonhar, tenha o coração bom e a pureza que tens hoje. E ei, um beijo pra você!
ResponderExcluirSe uma pequena percebeu isso. É porque realmente crescer é uma droga =/
ResponderExcluirInfância...ah saudade! Ultimamente, assim como a pequena do texto, tenho refletido bastante sobre a droga de crescer. essas tais dúvidas quanto a morte e tudo o mais. Realmente a infância passa por nós sem sequer percebermos. Sem nenhuma novidade, adorei o texto mais uma vez.
ResponderExcluirBeijos!
-Bom voltar a lhe visitar... =)
http://dama-louca.blogspot.com.br/
Crescer deveria ser proibido, é uma transgressão.
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