Mandei esse texto para o Desnamorados!
Ela debruçava-se sobre a pia tentando tirar a cor azul do cabelo.
Seria mais fácil se tirasse a tinta no chuveiro, mas o velho aparelho estava quebrado e era preciso comprar outro imediatamente.
Agia como se eu não estivesse ali sentado na poltrona velha e surrada segurando uma garrafa de soda de laranja. Como se eu fosse mais um de seus móveis antiquados, e isso me irritava.
Franz Ferdinand cantava em nosso apartamento através de um disco velho. Faltava pouco para a vizinha reclamar que a música estava muito alta, embora a mesma não atravessasse a porta. A velha com certeza usava um copo de vidro para ouvir os sons que vinham do nosso apartamento apenas para nos encher a paciência. Era sábado de manhã e eu só queria descansar, apenas queria estar na praia, mas a minha garota havia cismado em pintar o cabelo logo naquela manhã, e a única coisa que eu podia fazer era esperar.
Eu continuei naquela poltrona encaroçada, com minha garrafa quase no fim e com meu estômago doendo, só para vê-la andando de um lado para o outro feliz com sua nova cor de cabelo, como se fosse a coisa mais legal do mundo, perguntando se ficou bonita. E eu responderia que sim, que é a mulher mais bonita do mundo, mesmo sendo louca e tendo o cabelo pintado de verde.