18 de janeiro de 2012

Bang, bang, I'm dead.


Era carnaval, e eu nunca gostei dessa festa. Faz calor, as músicas são ruins e a rua vira um inferno.
Eu estava na casa dos meus amigos e as únicas coisas que a geladeira possuía eram garrafas de vinho, latas de cerveja e macarrão. Passamos cinco dias assim.

No terceiro dia vi meus amigos entrarem juntos ao banheiro, eles sorriam e carregavam saquinhos nas mãos. Eu os segui e apenas ouvi o trinco da porta sendo virada à chave atrás de mim.
O banheiro era enorme e bonito, muito bonito. Os azulejos da parede eram bem pretos e havia uma prateleira apenas para os perfumes.
Meus amigos estavam reunidos em frente à bancada da pia, que era grande e cinza antes de derramarem um pó branco naquele mármore. Fizeram linhas grossas da parede até a beirada, o branco quase caia ao chão.
Eu olhei assustado, mas não deixei que me vissem tremer as calças.
As linhas pareciam lacraias gordas e albinas, pareciam nunca acabar.
Um deles me virou e disse: "você não vai cheirar isso". E eu respondi: "se eu quisesse usar, não seria você que me impediria. Aliás, eu não quero essa porcaria".

Eu me conservava ao lado, apoiando as costas na parede. Era extremamente bonito aos treze anos, meu cabelo era bem preto e liso, usava um penteado repicado e meus olhos tinham um ar de desinteressado. Minha calça estava rasgada e minhas sobrancelhas sempre se mantinham arqueadas de lado, como se algo sempre me incomodasse.
As garotas sorriram para mim pelo jeito como eu respondi, antes de aproximarem o nariz ao pó que estava na bancada.
É igual aos filmes, eles imitam as cenas, e as cenas são fiéis a eles. O papel enrolado era a ponte até às narinas que fungavam e ficavam rosadas.
Eu olhava com nojo, com ar de superioridade. "Eles são tão otários", mas eu era o otário. Por que eu estava naquele lugar?!
Depois de alguns minutos todos saíram do banheiro, inclusive eu.

Andei até a cozinha e cuspi no chão, "que diabos, não sei nem voltar pra casa. Por que raios eu concordei em vir? Eu não sei nem o endereço", pensei, colocando as mãos nos bolsos da calça e chutando uma cadeira.

Eu passei a tarde inteira bebendo vinho com uma garota na varanda, olhando para a paisagem e pensando no que fazer nos próximos dois dias naquela casa. Gabriella era bonita, seu cabelo também era preto, e sua boca era grande e comprida horizontalmente, sorriso bonito, sorria com os lábios e com os olhos, mas eu tentava não olhar para o seu rosto e ver que estava chapada.

À noite, porém, eu estava sozinho no quarto de hóspedes, enquanto meus amigos bebiam cerveja barata na sala.
O sono não chegava. Eu fiquei deitado com o peito contra o colchão e com a cabeça apoiada nos braços.

Até que um cara entrou no meu quarto e sentou-se ao pé da cama, ele é quem havia comprado a droga. Era barrigudo e tinha cabelo crespo, seus olhos eram amarelados e não brancos, sua pele era bem negra e não usava camisa.
Ele falou que minha garota não havia voltado àquela noite, disse que ela saiu bêbada pela porta e não voltou.
Eu não ligava, ela não era minha garota, não mais, não queria mais aquela guria.

Ele se aproximou de mim e tocou em meu cabelo, de modo que eu pulei da cama e fui para o outro lado e disse bem alto que não tocasse em mim.
Ele sorriu e perguntou: "por que você tá aqui?". Eu não entendi e não respondi. Então ele disse: "esse lugar não é pra você". Eu perguntei: "o que?", ele disse: "você não é como eles".
Eu fiquei parado e mandei que ele saísse do quarto, e ele se foi, dizendo que eu não deveria estar ali, e fechou a porta.
Eu fiquei sentado na cama e no escuro. Ele tinha razão, aquele não era o meu lugar.

7 comentários:

  1. Após ler me lembrei de um seriado chamado Skins é bem nesse estilo de drogas e muuuita bebida.
    Muuito boa a Narrativa.
    E realmente tem coisas que sabemos que não serve para nós.
    Ha.. coloquei essa postagem na page do facebook: http://www.facebook.com/pages/Minha-forma-de-Expressão/226848384012472

    Tem todos os direitos reservados ^^
    Um Beijo

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  2. Acontece. Já aconteceu de estar em lugares indesejados, mas hoje eu escolho bem e cada vez mais tenho feito a escolha certa. Acontece.

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  3. Todo mundo pelo menos um dia passa por isso. Gostei da narrativa.

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  4. Nossa,nunca passei por uma situação de ver alguém 'chapado',mas sobre estar em lugares nos quais eu não queria estar,isso sim já me aconteceu e muuito!
    Ao ler o seu texto,eu me lembrei dessas minhas situações na hoora..rsrs

    Muuito bem escrito!
    Beeijo
    http://blogmymemories.tk

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  5. "Era carnaval, e eu nunca gostei dessa festa. Faz calor, as músicas são ruins e a rua vira um inferno."

    Esse já é um grande motivo para que sejamos censurados. Aqui no Brasil quem não gosta de carnaval é visto como anormal. Quanto ao resto são coisas do cotidiano das pessoas, porém a hipocrisia impede que tais palavras sejam ditas...

    Tive um texto "censurado e 1/2" também pelo jornal que escrevo todas as semanas. Publicaram no jornal porém não publicaram no site do mesmo. Fica díficil surgirem novos pensadores quando há interesses maiores por trás do sistema.

    Brilhante narrativa! Lembrou o seriado Skins como já dito, bem como um filme mais antigo Kids.

    Um abraço!

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  6. Posso ser sincera?
    Faltou razão nas escolhas do garoto. E me faltou informações de como ele foi parar lá...
    Mas é um texto intenso, sim. E explícito... mas faltou algo pra mim.
    É isso. Um beijo Bru :*

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