Eu escrevi esse poema ano passado quando estava no 9º ano. A professora de inglês havia pedido para eu escrever algo pra ela apresentar na Feira da Cultura do colégio, eis que surgiu "Menino da Favela".
Menino da Favela
Eu não sei escrever,
Não sei ler,
Por isso eu rimo,
Correndo descalço pelos becos,
Machucando os meus dedos
Esperando ser ouvido:
Aqui não mora só bandido,
Que gosta de dar tiro,
Pow pow pow...
Aqui não mora só cretino.
Gente sem juízo,
Que fala que aqui só tem lixo!
Porque aqui tem gente
Que força pra não chorar,
E mente,
Dizendo que não é carente.
Carente de comida,
Carente de moradia.
E faz você acreditar,
Que não se incomoda com o bueiro,
Com a falta de água quente no chuveiro.
Porque aqui tem gente
Que mesmo sem motivos pra ficar contente,
Trabalha duro debaixo do sol ardente.
Sem se queixar,
Sem abandonar.
E no final do mês ganhar,
Um salário pouco
Que só dá pra comprar o repolho.
Já o bife ficará para o próximo mês,
Quando, “se Deus quiser”,
Tiver mais freguês.
Porque aqui também tem
Neto de lavadeiro,
Primo de pasteleiro
E sobrinho de cozinheiro.
Aqui tem o Zé da lojinha
Bigodudo e com cara de bolinha.
Tem a Dona Maria,
Minha vizinha.
Essa que fofoca pelos cotovelos,
Fala do Nego.
Conhece o Nego?
Homem de sorte!
Caiu da laje e machucou só o joelho.
Nenhum corte.
Vê se pode!
Porque aqui também tem
Gente culta,
Gente burra,
Gente arrumada,
Gente deformada,
Gente feliz,
Gente infeliz,
Gente de todo tipo de gente.
Aqui não tem só,
Menino que cheira pó,
Porque isso tem em
Todo lugar do mundo.
Aqui não tem só mal educado,
Tem gente que fala “obrigado”,
“Por favor”
“Desculpa”
Também tem gente diferente
Que fala: “sai da frente”.
Porque aqui não tem só,
Miserável,
TV a gato,
Mijo de rato,
Bebê descalço,
Cheiro de estragado.
Tem gente com DVD,
PSP,
Celular pra vender.
E a própria Renê,
Que usava tererê,
Fez chapinha no cabelo,
E agora anda como se fosse modelo.
Porque aqui tem pessoas
Que vivem de todo o jeito,
Nesse lugar esquecido pelo governo.
Que vivem do jeito que podem,
Com o medo de algum dia morrer de fome.
Pessoa feito gente
Gente feito pessoa
Que jura, jura e amaldiçoa
Quando o presidente caçoa
Falando do aumento do imposto,
Depois disso é só desgosto...
Mas é o que eu falo,
E disso eu não me calo,
Que aqui não mora só bandido,
Que gosta de dar tiro,
Pow pow pow...
Aqui não mora só cretino.
Gente sem juízo,
Que fala que aqui só tem lixo!